sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Universo simulado - Parte I

Olhou para o relógio, eram quase 4:30... Desde antes da meia-noite que tentava, sem sucesso, libertar o seu pensamento e adormecer profundamente, para acordar fresco na manhã seguinte. Este objectivo parecia-lhe, agora, inalcançável. Conseguiria levantar-se com energia e inspiração para escrever mais umas páginas do relatório?...

Faltava tão pouco! Tinha concluído todas as cadeiras com notas nem muito boas nem muito más, e o trabalho final estava concluído... na demonstração do dia anterior tudo tinha corrido excepcionalmente bem... faltava apenas terminar o relatório e depois fazer a apresentação e a defesa do trabalho... O título de Engenheiro Informático está mesmo ali ao virar da esquina...

Mas este trabalho final levava-lhe agora, depois de terminado, todas as suas energias!... O desenvolvimento daquele projecto, apesar das dúvidas iniciais, tinha acabado por se revelar bastante desafiante, e ele tinha conseguido ultrapassar as dificuldades de forma brilhante... por momentos sorriu ao relembrar a surpresa e o entusiasmo na cara do seu orientador no momento em que lhe apresentou aquela solução!... Não, não eram os problemas técnicos que agora lhe tiravam o sono!

A princípio aquele projecto de simulador, proposto por um professor do departamento de Física, tinha-lhe parecido desinteressante, demasiado teórico e sem aplicação prática. O tema até era interessante do ponto de vista teórico, mas ele estava farto de teoria... Mas a insistência do seu orientador e a falta de outras alternativas melhores acabaram por selar a escolha.

O seu pensamento vagueava agora pelos quatro meses que gastou no desenvolvimento do programa de simulação. Recordou as primeiras dúvidas, as primeiras soluções, aquele primeiro desânimo de ter de recomeçar tudo de novo, a satisfação da brilhante solução para a representação das partículas na memória do computador, a concepção do algoritmo que permitiria aplicar a cada partícula as leis definidas no modelo do professor do departamento de Física, as primeiras execuções do simulador, a procura e correcção dos "bugs"... a surpresa do seu orientador e do professor quando viram o resultado final, a pergunta do professor, nítida como se tivesse acabado de a ouvir, "Tão rápido?... tem a certeza de que programou o modelo tal como está nas minhas especificações?...", e depois virando-se para o orientador, "Isto é fantástico! Temos de experimentar isto no super-computador do departamento.".

O sorriso que se havia desenhado na sua cara, à medida que estas recordações se foram sucedendo, foi substituído por uma expressão de perplexidade... de dúvida... Aquele tinha sido, sabia-o agora, o momento de viragem.

Recordou o entusiasmo dos dias seguintes. A grande admiração pela capacidade do super-computador, o trabalho intenso daquela manhã para introduzir as condições iniciais que o professor do departamento de Física lhe tinha dado, a antecipação dos possíveis resultados da simulação com aquelas condições que levavam ao limite as capacidades do super-computador, a expectativa da espera pelos resultados e, finalmente, depois de várias horas de processamento intensivo, os resultados!...

Os resultados!... os resultados da simulação de algumas fracções de segundo daquele hipotético sistema, com aquelas hipotéticas partículas naquelas hipotéticas condições iniciais, aquelas hipotéticas leis, num hipotético universo apenas existente na memória daquele super-computador do departamento de Física... um hipotético "Big Bang"...

Tentou, uma vez mais, esvaziar o pensamento, esquecer tudo, fechar os olhos e dormir! Mas não, a mesma possibilidade que lhe tinha ocorrido no final da tarde anterior, depois de ver aqueles resultados, voltou a monopolizar o seu consciente…

Que aconteceria naquele hipotético universo, simulado pelo super-computador do departamento de Física, se em vez de algumas fracções de segundo fosse possível simular alguns biliões de anos, com um número ainda maior de hipotéticas partículas num super-super-computador?... será que veriam surgir hipotéticas galáxias, com hipotéticas estrelas, e hipotéticos planetas?... e hipotéticos seres hipoteticamente inteligentes?...

Como veriam eles, os hipotéticos seres hipoteticamente inteligentes, o seu universo?... E professor do departamento de Física seria o quê?... um hipotético deus?... e ele, o finalista de engenharia informática, seria o quê?...

Uma nova possibilidade assaltou-o. Esbugalhou os olhos, como se procurasse ver alguma coisa na total escuridão do seu quarto… uma prova… um indício…

Nada!... apenas aquela dúvida, aquela possibilidade surgida repentinamente como um relâmpago… Seria todo o universo à sua volta, e ele próprio, o resultado de uma simulação?... seria ele um hipotético finalista de uma hipotética engenharia informática, num hipotético universo, com hipotéticas partículas e hipotéticas leis, num hipotético universo simulado?... e nesse caso, quem (ou o que) será o programador desse simulador?...

Perdeu definitivamente qualquer esperança de descanso…

(continua)

2 comentários:

A Túlipa disse...

Hipoteticamente correcto.

(poderei chamar-te Senhor Engenheiro, ou a personagem é pura imaginação tua?)

Anônimo disse...

Queremos neste Natal,

poder armar uma árvore dentro de nossos corações e nela colocarmos,

no lugar de presentes,

os nomes de nossos amigos.
Os que vivem longe e os que vivem perto;
os antigos e os mais recentes;
os que vemos todos os dias e os que raramente vemos;
os que sempre recordamos e os que às vezes esquecemos;
os das horas difíceis e os das horas alegres;
os que sem querer ferimos e os que sem querer nos feriram;
aqueles que conhecemos profundamente

e aqueles que conhecemos superficialmente;
os que nos recordaram e os que recordamos,

nossos amigos humildes e nossos amigos importantes,

aqueles que nos ensinaram e os que deixaram-se ensinar por nós,

uma árvore de raízes muito profundas

para que os seus nomes nunca sejam arrancados de nossos corações.

Uma árvore de folhas muito largas para que os nomes vindos de todas as partes,
venham a se juntar aos existentes.

Uma árvore de sombra muito agradável para que nossa amizade seja um momento de repouso na luta pela vida.

Que o espírito de Natal faça de cada lágrima um sorriso, da amargura a sabedoria e de cada coração uma casa aberta para receber a todos.

Feliz Natal.

Beijos,

Pérola