sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Natal...

Este ano um amigo convidou-me para passar o Natal na terra dele. Uma daquelas terrinhas magníficas do interior que em alturas de festa duplica de população. Foi magnífico! Gente fantástica, ambiente fantástico, calor humano fantástico, e frio fantástico também!...

Mas que faço eu, ateu convicto, num local onde todos são católicos?... onde todos vão à missa do galo... Bem, este ano nem todos foram à missa do galo!...

Inevitavelmente, no dia seguinte o tema "Deus" acabou por se tornar assunto de conversa. De um lado os meus anfitriões e os seus familiares locais, do outro lado eu...

Foi uma conversa extremamente interessante, outra coisa não seria de esperar de pessoas civilizadas. Mas foi, também, uma conversa que não levou a lado nenhum, provando, uma vez mais, que isto de acreditar ou não acreditar é exclusivamente uma questão de convicção e de fé.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Universo simulado - Parte I

Olhou para o relógio, eram quase 4:30... Desde antes da meia-noite que tentava, sem sucesso, libertar o seu pensamento e adormecer profundamente, para acordar fresco na manhã seguinte. Este objectivo parecia-lhe, agora, inalcançável. Conseguiria levantar-se com energia e inspiração para escrever mais umas páginas do relatório?...

Faltava tão pouco! Tinha concluído todas as cadeiras com notas nem muito boas nem muito más, e o trabalho final estava concluído... na demonstração do dia anterior tudo tinha corrido excepcionalmente bem... faltava apenas terminar o relatório e depois fazer a apresentação e a defesa do trabalho... O título de Engenheiro Informático está mesmo ali ao virar da esquina...

Mas este trabalho final levava-lhe agora, depois de terminado, todas as suas energias!... O desenvolvimento daquele projecto, apesar das dúvidas iniciais, tinha acabado por se revelar bastante desafiante, e ele tinha conseguido ultrapassar as dificuldades de forma brilhante... por momentos sorriu ao relembrar a surpresa e o entusiasmo na cara do seu orientador no momento em que lhe apresentou aquela solução!... Não, não eram os problemas técnicos que agora lhe tiravam o sono!

A princípio aquele projecto de simulador, proposto por um professor do departamento de Física, tinha-lhe parecido desinteressante, demasiado teórico e sem aplicação prática. O tema até era interessante do ponto de vista teórico, mas ele estava farto de teoria... Mas a insistência do seu orientador e a falta de outras alternativas melhores acabaram por selar a escolha.

O seu pensamento vagueava agora pelos quatro meses que gastou no desenvolvimento do programa de simulação. Recordou as primeiras dúvidas, as primeiras soluções, aquele primeiro desânimo de ter de recomeçar tudo de novo, a satisfação da brilhante solução para a representação das partículas na memória do computador, a concepção do algoritmo que permitiria aplicar a cada partícula as leis definidas no modelo do professor do departamento de Física, as primeiras execuções do simulador, a procura e correcção dos "bugs"... a surpresa do seu orientador e do professor quando viram o resultado final, a pergunta do professor, nítida como se tivesse acabado de a ouvir, "Tão rápido?... tem a certeza de que programou o modelo tal como está nas minhas especificações?...", e depois virando-se para o orientador, "Isto é fantástico! Temos de experimentar isto no super-computador do departamento.".

O sorriso que se havia desenhado na sua cara, à medida que estas recordações se foram sucedendo, foi substituído por uma expressão de perplexidade... de dúvida... Aquele tinha sido, sabia-o agora, o momento de viragem.

Recordou o entusiasmo dos dias seguintes. A grande admiração pela capacidade do super-computador, o trabalho intenso daquela manhã para introduzir as condições iniciais que o professor do departamento de Física lhe tinha dado, a antecipação dos possíveis resultados da simulação com aquelas condições que levavam ao limite as capacidades do super-computador, a expectativa da espera pelos resultados e, finalmente, depois de várias horas de processamento intensivo, os resultados!...

Os resultados!... os resultados da simulação de algumas fracções de segundo daquele hipotético sistema, com aquelas hipotéticas partículas naquelas hipotéticas condições iniciais, aquelas hipotéticas leis, num hipotético universo apenas existente na memória daquele super-computador do departamento de Física... um hipotético "Big Bang"...

Tentou, uma vez mais, esvaziar o pensamento, esquecer tudo, fechar os olhos e dormir! Mas não, a mesma possibilidade que lhe tinha ocorrido no final da tarde anterior, depois de ver aqueles resultados, voltou a monopolizar o seu consciente…

Que aconteceria naquele hipotético universo, simulado pelo super-computador do departamento de Física, se em vez de algumas fracções de segundo fosse possível simular alguns biliões de anos, com um número ainda maior de hipotéticas partículas num super-super-computador?... será que veriam surgir hipotéticas galáxias, com hipotéticas estrelas, e hipotéticos planetas?... e hipotéticos seres hipoteticamente inteligentes?...

Como veriam eles, os hipotéticos seres hipoteticamente inteligentes, o seu universo?... E professor do departamento de Física seria o quê?... um hipotético deus?... e ele, o finalista de engenharia informática, seria o quê?...

Uma nova possibilidade assaltou-o. Esbugalhou os olhos, como se procurasse ver alguma coisa na total escuridão do seu quarto… uma prova… um indício…

Nada!... apenas aquela dúvida, aquela possibilidade surgida repentinamente como um relâmpago… Seria todo o universo à sua volta, e ele próprio, o resultado de uma simulação?... seria ele um hipotético finalista de uma hipotética engenharia informática, num hipotético universo, com hipotéticas partículas e hipotéticas leis, num hipotético universo simulado?... e nesse caso, quem (ou o que) será o programador desse simulador?...

Perdeu definitivamente qualquer esperança de descanso…

(continua)

A mentira dos sentidos - Parte I

Os nossos sentidos são fantásticos!... Com eles sentimos o mundo à nossa volta, sem eles a vida não faria sentido!...

Mas será que os nossos sentidos nos contam a verdade acerca do universo em que vivemos? Ou será que apenas nos permitem ver as sombras na caverna de Platão?...

Matéria, energia, espaço, distância, tempo... será que todas estas coisas existem mesmo, ou serão uma mera ilusão, ou uma ténue sombra de uma realidade maior?...

Neste meu devaneio dou por mim a pensar nas células do meu corpo... se elas tivessem sentidos e inteligência, como seria a sua percepção do seu universo? Que mentiras lhes contariam os seus sentidos?

Suponhamos que esses sentidos apenas lhes permitiriam percepcionar o "universo" contido dentro do meu corpo. Seria um universo bastante vasto na escala de uma célula, provavelmente demasiado vasto para poder ser entendido pela sua limitada inteligência, mas seria, ao mesmo tempo, demasiado pequeno na escala de uma realidade maior.

Seremos nós uma "célula" de um qualquer corpo?... e seremos nós, alguma vez, capazes de olhar para fora desse corpo para observar a realidade maior?

(continua)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um bom começo!...

Bem, recebi hoje o primeiro comentário!! E ainda por cima, da autora de um dos melhores blogs que já por aqui fui vendo! Bem é verdade que ainda sou um completo estreante neste universo, que ainda agora comecei a viajar nele, e que por isso ainda tenho muito para descobrir, mas as Memórias da Túlipa são, até ver, do melhor que já tive a sorte de encontrar (vou ficar de olho em ti!...).

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O devaneio do cantinho

Pronto, já está!... depois de muitas hesitações decidi-me, finalmente, a iniciar o meu próprio blog.

Porquê?... Para quê?...

Bem, a verdade é que muitas vezes dou por mim a espiar, secretamente, alguns dos devaneios em que o meu pensamento se costuma perder, e achei que valia a pena registá-los num cantinho secreto. Não que sejam especialmente bons ou especialmente maus, são apenas isso, devaneios.

E não, não me refiro aqueles devaneios ditos imorais! Esses são, por aquilo que tenho observado no meu papel de voyeur, demasiado fúteis e sem graça para com eles desperdiçar o espaço de um qualquer blog.

Ficam, portanto, os outros... não especialmente bons, não especialmente maus... a maior parte também sem graça...

Quanto ao local... não, não poderia ser num outro lugar qualquer... tinha de ser um lugar confortavelmente desconfortável... um lugar secretamente público, onde todos poderão vir espreitar, mas que não se espera venha a ser muito espreitado... enfim, um cantinho!

Aqui fica, portanto, este cantinho, ainda vazio de outros devaneios além deste primeiro.