quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Universo simulado - Parte II

(continuação do artigo Universo Simulado - Parte I)

“Professor, desde ontem que não consigo pensar noutra coisa, nem consegui dormir.”

“Algum problema?... A simulação de ontem foi um sucesso! Não me digas que detectaste um erro no simulador…”

“Não, não se trata disso, trata-se da simulação propriamente dita…”

“Como assim?...”

Olhou o professor durante alguns segundos, como se temesse dizer algo ridículo. “Será que se deixarmos o simulador a correr durante tempo suficiente veremos aparecer estrelas, galáxias, planetas, vida?...”

O professor sorriu. “Estou a ver… … mas duvido que alguma vez tenhamos um computador suficientemente potente, e tempo suficiente para testar essa possibilidade, por isso a tua questão terá de permanecer no plano estritamente filosófico.”

Voltou a hesitar um pouco antes de falar de novo. “E nós, seremos nós uma simulação?”

O professor sorriu de novo, recostou-se na cadeira e olhou-o de uma forma inquisidora durante alguns instantes, como quem mede o adversário de um jogo de xadrez.

“Uma simulação com um universo deste tamanho?... com tantas partículas, mais de 1080 átomos, sem contar com a Matéria Negra!… achas mesmo possível?...”

Fez uma pequena pausa antes de iniciar a resposta. “E seria mesmo necessário simular o comportamento de todas essas partículas para simular o nosso universo?...”

“Não estou a perceber…”

“Acha que seria necessário simular cada partícula que constitui o Sol?... se formos nós, os humanos, os únicos a observar o Sol, bastará simular o comportamento das grandezas que somos capazes de observar, pois não teríamos forma de perceber a diferença…”

Fez uma pausa…

“Se bem me lembro do que estudei na cadeira de física do primeiro ano, de acordo com a teoria da mecânica quântica as partículas quando observadas, têm um comportamento diferente daquele que têm quando não são observadas… lembro-me do paradoxo do gato de schrodinger, em que um gato trancado dentro de uma caixa, e fora do alcance de qualquer observação, existiria, ao mesmo tempo, vivo e morto…

Se este universo for apenas uma simulação, o gato nem precisa de existir enquanto se encontrar dentro da caixa e fora do alcance de qualquer observação. O eventual simulador não precisaria de simular a existência do gato dentro da caixa, porque essa existência seria irrelevante para a simulação do resto do universo.”

“Sim, mas, ainda assim, o universo que conseguimos observar é bastante vasto, mesmo não sendo necessário simular ao nível de cada partícula, ainda haveria muito universo para simular… e durante muito tempo.”

“Bem, se o sol, que se encontra apenas a 8 minutos-luz da terra, puder ser simulado de uma forma relativamente simplista, muito mais o poderá o resto do universo que, estando mais longe, está mais fora do alcance da nossa observação… Bastaria simular os pedacinhos de radiação cósmica que chegam aos nossos olhos e aos nossos telescópios e rádio-telescópios.

Por outro lado, é claro que na escala humana não seria possível construir um computador com capacidade para fazer uma tal simulação, mas as nossas limitações não implicam que não possa existir uma realidade que nos ultrapasse… numa outra dimensão… num outro universo…

E quanto ao tempo de simulação, como poderemos ter a certeza de que a simulação não tenha sido iniciada apenas há um milhão de anos atrás?... ou há mil anos?... ou há cinco minutos?... tudo depende das condições iniciais colocadas no simulador… será que as nossas memórias se referem mesmo a um passado vivido?... ou serão, apenas, memórias inventadas?...”

O professor continuou em silêncio mais alguns segundos, mantendo sempre um leve sorriso nos lábios. “Tens razão… na realidade podemos não passar de pequenos e insignificantes fantoches… mas nada podemos provar a esse respeito… por isso, à semelhança da tua primeira pergunta, esta é mais uma questão para tratar num plano estritamente filosófico…”

“Talvez não...Talvez não!...”

O sorriso desfez-se dos lábios do professor. “Como assim?... Tens alguma ideia?...”

“Por acaso até tenho…”

“Uma ideia para testar a possibilidade de sermos o resultado de uma simulação?!...”

“Sim!”

(continua)

3 comentários:

RC disse...

(Dis)simulado!

Xi.

A Túlipa disse...

Tu realmente pensas. Espero ansiosa,curiosa e intrigadamente pela conclusão.

'

MARIA MERCEDES disse...

Acabaste de conquistar o meu coração quântico...

Pena não teres estado presente na primeira parte do Excitações...tinha por lá várias excitações quânticas! Neste momento repeti-las é uma possibilidade...

beijinho e obrigado pela amável visita