quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

"Não existe um caminho para a paz! A paz é o caminho!"

Acerca do autor destas palavras, Albert Einstein disse um dia: “as gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra.”

Para saber quem foi este homem ler mais aqui.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Universo simulado - Parte III

(continuação do Universo Simulado - Parte I e Parte II)

Numa outra dimensão, numa outra forma de comunicação, numa outra linguagem, um diálogo cuja tradução apenas se pode aproximar:

“Foi identificado um problema na simulação. Alguns dos elementos simulados tomaram consciência da sua condição. Descobriram uma forma de ter a certeza... Fizeram tantas coisas inesperadas que acabaram por conseguir explorar um problema no programa de simulação e com isso pararam o computador.”

“Um problema no programa de simulação?...”

“Uma situação que não estava prevista… Faz o programa de simulação entrar num ciclo infinito. O sistema de monitorização detectou o problema e parou o simulador.”

“E quais são as soluções possíveis?”

“Podemos corrigir o erro no programa e retomar a simulação a partir de um ponto anterior. De qualquer modo, isso não impedirá que eles mantenham as certezas que já descobriram… É uma questão de tempo até que esse conhecimento chegue a todos os outros...”

“Não!... é muito cedo!... não, não podemos permitir que isso aconteça agora... ainda não!”

Pouco depois um computador informa:

“A carregar o backup seleccionado…”

...

“Backup correctamente carregado.”

“Carregadas condições externas adicionais.”

...

“Simulação retomada.”

Num hipotético universo simulado, um hipotético professor universitário sofre um ataque cardíaco fulminante e morre. Duas hipotéticas semanas depois, um hipotético finalista de uma hipotética engenharia informática, escolhe para hipotético projecto de fim de curso um sistema para controlar um hipotético robot industrial.

Fim.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

... cause every little thing gonna be all right...

Entrei no carro para o meu desejado regresso a casa, no final de mais um típico dia de trabalho, cheio de típicas reuniões, de típicos telefonemas, e de um sem número de outras típicas chatices.

Pelo rádio vão chegando alguns sons intermitentes, transportados pelas ondas que, por entre o ruído branco, vão conseguindo penetrar nas estruturas de betão até lugar onde me encontro, na cave do estacionamento.

À medida que vou subindo até à superfície, o ruído branco vai perdendo cada vez mais terreno, revelando-se cada vez mais nítida a emissão de rádio da TSF. Reconheço a voz de Carlos Vaz Marques, que tantas vezes me faz companhia no meu regresso a casa, com o seu programa Pessoal e Transmissível.

Fala-se de guerra com um entrevistado que responde em inglês e que Carlos Vaz Marques vai traduzindo.

Um relato de alguém que perdeu a conta das pessoas que matou ou ajudou a matar… de alguém que, naquela altura, tinha como ídolo o seu Comandante, cujos feitos de tirania aleatória eram tomados como modelo de bravura e coragem por todo o pelotão…

Tudo fica mais claro quando, finalmente, percebo que o entrevistado é um ex-menino soldado que combateu entre os 12 e os 18 anos.

Ishmael Beah, hoje com 27 anos, foi salvo da guerra civil da Serra Leoa em 1998 por um programa da UNICEF. Em 2004 concluiu um bacharelato em Ciências Políticas numa escola dos EUA, e em 2007 publicou o livro A Long Way Gone: Memoirs of a Boy Soldier (também editado em português).

A certa altura o entrevistador pergunta sobre o que ajudou Ishmael a recuperar das memórias de guerra e da droga de que se tinha tornado dependente. Ishmael fala das músicas de que tanto gostava antes da guerra, e às quais se agarrou no seu processo de recuperação, como se elas fossem uma ponte entre o antes e o depois… Fala, em particular, de uma música de Bob Marley: Three Little Birds… e canta esta melodia, da qual conhece de cor os versos:

Dont worry about a thing,
cause every little thing gonna be all right.
Singin: dont worry about a thing,
cause every little thing gonna be all right!

Rise up this mornin,
Smiled with the risin sun,
Three little birds
Pitch by my doorstep
Singin sweet songs
Of melodies pure and true,
Sayin, (this is my message to you-ou-ou:)

Singin: dont worry bout a thing,
cause every little thing gonna be all right.
Singin: dont worry (dont worry) bout a thing,
cause every little thing gonna be all right!

Parado numa qualquer fila de trânsito, enquanto o vermelho de sangue não dá lugar ao verde de esperança, alguém na fila do lado estranha o sorriso dorido e a lágrima que me escorre pela cara, como se a sabedoria popular estivesse gravemente ofendida por afinal haver homens que choram.

Solta-se mais uma lágrima enquanto penso nos outros meninos soldado que nunca puderam cantar “… cause every little thing gonna be all right…”

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Reflexos

Entro, de novo, naquele elevador com espelhos em todos os lados e lá estou eu, outra vez, repetido numa infindável sucessão de reflexões até perder de vista. Uma multidão de mãos que se levantam, uma multidão de cabelos que se ajeitam, uma multidão de roupas que se compõem, tudo sincronizado na mais perfeita exactidão…

Vejo-me e revejo-me neste caleidoscópio que me mostra o mesmo “eu” que me mostra qualquer outro espelho vulgar, mas que me mostra, também, outras formas, outros ângulos deste mesmo “eu”… vejo-me de frente, de lado, de costas… há até reflexos em que o “eu” reflectido levanta o braço direito quando eu levanto o braço direito, ao contrário de outros reflexos que teimam em levantar o esquerdo, nessa mesma falta de originalidade comum a todos os outros espelhos vulgares…

Dou por mim a imaginar o que aconteceria se estes espelhos fossem perfeitos, se não fossem, a cada reflexão, distorcendo a imagem reflectida e roubando um pouco da radiação que a constitui… continuaria a minha imagem a saltitar de espelho em espelho, transportada à velocidade de 300 mil quilómetros por segundo, numa sucessão infindável, prisioneira dessas quatro paredes?…

Mas não, as imagens começam a escapar-se para fora do elevador mesmo antes de eu iniciar a minha saída pela porta, que ainda não abriu o suficiente para eu sair, mas já deixou escapar as imagens que eu tanto queria deixar prisioneiras atrás de mim… os últimos vestígios dos “eu” reflectidos desvanecem-se por completo mesmo antes de a porta se voltar a fechar.

Ainda bem!... quem entrar a seguir não terá a possibilidade de me ver nem de frente, nem de lado, nem pelas costas…

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Universo simulado - Parte II

(continuação do artigo Universo Simulado - Parte I)

“Professor, desde ontem que não consigo pensar noutra coisa, nem consegui dormir.”

“Algum problema?... A simulação de ontem foi um sucesso! Não me digas que detectaste um erro no simulador…”

“Não, não se trata disso, trata-se da simulação propriamente dita…”

“Como assim?...”

Olhou o professor durante alguns segundos, como se temesse dizer algo ridículo. “Será que se deixarmos o simulador a correr durante tempo suficiente veremos aparecer estrelas, galáxias, planetas, vida?...”

O professor sorriu. “Estou a ver… … mas duvido que alguma vez tenhamos um computador suficientemente potente, e tempo suficiente para testar essa possibilidade, por isso a tua questão terá de permanecer no plano estritamente filosófico.”

Voltou a hesitar um pouco antes de falar de novo. “E nós, seremos nós uma simulação?”

O professor sorriu de novo, recostou-se na cadeira e olhou-o de uma forma inquisidora durante alguns instantes, como quem mede o adversário de um jogo de xadrez.

“Uma simulação com um universo deste tamanho?... com tantas partículas, mais de 1080 átomos, sem contar com a Matéria Negra!… achas mesmo possível?...”

Fez uma pequena pausa antes de iniciar a resposta. “E seria mesmo necessário simular o comportamento de todas essas partículas para simular o nosso universo?...”

“Não estou a perceber…”

“Acha que seria necessário simular cada partícula que constitui o Sol?... se formos nós, os humanos, os únicos a observar o Sol, bastará simular o comportamento das grandezas que somos capazes de observar, pois não teríamos forma de perceber a diferença…”

Fez uma pausa…

“Se bem me lembro do que estudei na cadeira de física do primeiro ano, de acordo com a teoria da mecânica quântica as partículas quando observadas, têm um comportamento diferente daquele que têm quando não são observadas… lembro-me do paradoxo do gato de schrodinger, em que um gato trancado dentro de uma caixa, e fora do alcance de qualquer observação, existiria, ao mesmo tempo, vivo e morto…

Se este universo for apenas uma simulação, o gato nem precisa de existir enquanto se encontrar dentro da caixa e fora do alcance de qualquer observação. O eventual simulador não precisaria de simular a existência do gato dentro da caixa, porque essa existência seria irrelevante para a simulação do resto do universo.”

“Sim, mas, ainda assim, o universo que conseguimos observar é bastante vasto, mesmo não sendo necessário simular ao nível de cada partícula, ainda haveria muito universo para simular… e durante muito tempo.”

“Bem, se o sol, que se encontra apenas a 8 minutos-luz da terra, puder ser simulado de uma forma relativamente simplista, muito mais o poderá o resto do universo que, estando mais longe, está mais fora do alcance da nossa observação… Bastaria simular os pedacinhos de radiação cósmica que chegam aos nossos olhos e aos nossos telescópios e rádio-telescópios.

Por outro lado, é claro que na escala humana não seria possível construir um computador com capacidade para fazer uma tal simulação, mas as nossas limitações não implicam que não possa existir uma realidade que nos ultrapasse… numa outra dimensão… num outro universo…

E quanto ao tempo de simulação, como poderemos ter a certeza de que a simulação não tenha sido iniciada apenas há um milhão de anos atrás?... ou há mil anos?... ou há cinco minutos?... tudo depende das condições iniciais colocadas no simulador… será que as nossas memórias se referem mesmo a um passado vivido?... ou serão, apenas, memórias inventadas?...”

O professor continuou em silêncio mais alguns segundos, mantendo sempre um leve sorriso nos lábios. “Tens razão… na realidade podemos não passar de pequenos e insignificantes fantoches… mas nada podemos provar a esse respeito… por isso, à semelhança da tua primeira pergunta, esta é mais uma questão para tratar num plano estritamente filosófico…”

“Talvez não...Talvez não!...”

O sorriso desfez-se dos lábios do professor. “Como assim?... Tens alguma ideia?...”

“Por acaso até tenho…”

“Uma ideia para testar a possibilidade de sermos o resultado de uma simulação?!...”

“Sim!”

(continua)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Surrender your ego

Ontem estava a fazer umas arrumações e encontrei um velho CD dos Queen, que já julgava perdido. Coloquei na aparelhagem e fui ouvindo enquanto continuava as minhas arrumações. Até que chegou o Innuendo e um dos excertos de música e letra mais bem conseguidos de sempre… dá que pensar…

You can be anything you want to be

Just turn yourself into anything you think that you could ever be

Be free with your tempo, be free be free

Surrender your ego - be free, be free to yourself

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Caridade dolorosa

Dói-me este pedinte sentado no meio do passeio…

Dói-me o chamamento do tilintar de uma ou duas moedas solitárias no fundo da lata de salsichas…

Dói-me o pedido de “aiuta!...” que me lança nesta pronúncia quase incompreensível…

Dói-me a (apenas aparente) indiferença com que passo e sigo o meu caminho…

Dói-me aquela criança que, uns passos mais adiante, repete o mesmo pedido…

Dói-me o seu olhar vago e vazio de sonhos…

Dói-me sabê-la ausente da escola e das brincadeiras que lhe poderiam alimentar esses sonhos…

Dói-me o som da moeda que alguém, (apenas aparentemente) menos indiferente do que eu, deixa cair na lata de salsichas…

Dói-me a paz com se afasta, repentinamente esquecido da realidade por que acaba de passar, como se a moeda deixada cair lhe comprasse a ilusão de viver num mundo sem miséria…

Dói-me a miséria…

Dói-me a miséria de os saber explorados…

Dói-me quando, mais tarde, me cruzo com a mesma mulher que todos os dias pede uma “ajudinha” à porta do centro comercial…

Dói-me a energia com que sucessivamente aborda todos os que vão passando…

Dói-me a possibilidade de estar enganado quando penso que esta energia poderia ser melhor investida em algo de útil e produtivo…

Dói-me este inevitável pensamento de a ver como um “parasita”…

Dói-me, de novo, a (apenas aparente) indiferença com que me desvio e sigo o meu caminho…

Dói-me, enquanto escrevo esta dor, pensar que posso estar enganado nesta minha convicção de que a melhor forma de combater esta miséria é não alimentar este modo de vida…

Dói-me pensar que posso estar enganado nesta minha convicção da caridade da minha (apenas aparente) indiferença…

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Loira burra...

Neste dia, em que entra em vigor a nova lei sobre o tabaco, lembrei-me de um pequeno episódio que me pareceu oportuno partilhar com quem por aqui passar.

Há alguns dias passei em frente a duas adolescentes que conversavam sentadas junto a uma escola secundária.

Não percebi de que falavam, mas consegui ouvir de uma delas, enquanto retirava o cigarro da boca, "... vê-se mesmo que é loira burra!..."

Apeteceu-me perguntar "então e o que se deve chamar a uma morena que fuma?...".